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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Editorial Espaço Energia 16 - Reflexões sobre P&D no setor elétrico brasileiro


Em primeira mão, publico neste blog o principal trecho do editorial da edição 16 da revista Espaço Energia, prevista para maio de 2012.

A União Europeia elabora anualmente um relatório, intitulado “Industrial R&D Investment Scoreboard”, que contém dados importantes relacionados ao investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de empresas em contexto mundial e segmentadas por suas áreas de atuação, além de outras informações econômicas e financeiras referentes aos quatro últimos anos fiscais. Na mais recente publicação, do ano de 2011, que apresenta informações relativas ao ano de 2010, são listadas ao todo 1400 empresas classificadas pelo seu investimento total em P&D. Desse total, 400 empresas têm sede nos Estados Unidos e 1000 em outros países. A empresa no topo da lista investiu 7.181,11 milhões de Euros, enquanto que a última da lista investiu 30,70 milhões de Euros.

As empresas do setor elétrico constantes no relatório somam vinte. A primeira dessa lista investiu 520 milhões de Euros, correspondentes a 4,7% de sua receita operacional líquida (ROL). A última dessa lista, por sua vez, investiu 34,30 milhões de Euros, correspondentes a 0,2% de sua ROL. Deve-se notar, entretanto, que essa pequena lista de vinte empresas do setor elétrico contém duas empresas cujo valor de investimento, apesar de significativamente maior do que 30 milhões de Euros, corresponde a 0,1% de sua ROL. Digno de nota também é o fato de apenas quatro dessas empresas possuírem investimento em P&D igual ou maior do que 1,0% de sua ROL.

Lançando um olhar analítico para a situação do setor elétrico brasileiro quando comparada com os números supramencionados, alguns questionamentos podem vir à tona, os quais merecem certa reflexão: Qual é a situação geral dos investimentos em P&D, abrangendo os de natureza compulsória e os empreendimentos espontâneos? Considerando a hipótese de que o programa de P&D compulsório e regulado pela ANEEL abarque os maiores investimentos do setor, quais são os efeitos dessa regulação sobre os empreendimentos dessa natureza? Qual é o papel do programa de P&D regulado? Seria ele o grande (e talvez o único) catalisador da inovação no setor elétrico? Quais são os passos necessários para que o país se torne independente de regulação no que tange a investimentos em P&D, e adquira uma visão de longo prazo, visando ao desenvolvimento e, em última análise, à inserção do país como líder tecnológico nesse contexto? Quais são as estruturas que devem ser mudadas para que isso aconteça? Qual é o grau de real contribuição que um programa de P&D regulado pode dar ao país? Os diferenciais competitivos alcançados e as inovações geradas em seu contexto são significativos em relação aos empreendimentos espontâneos? Seria a distância entre a academia e o empresariado maior no Brasil do que em outros países mais desenvolvidos? Se sim, o que pode ser feito para que essa postura mude? Qual é o impacto do processo de fiscalização sobre o grau de ousadia que uma empresa, uma instituição ou um grupo de P&D pode ter em determinado empreendimento? Estariam as outras instâncias envolvidas, de caráter de fiscalização, preparadas para lidar com a ousadia de determinados empreendimentos e com a natureza muitas vezes intangível de resultados obtidos, mas que no entanto contribuam para um diferencial competitivo sustentado ao longo do tempo?

Considerando que o investimento em P&D por parte de uma concessionária de energia, de acordo com o programa regulado pela ANEEL, varie entre 0,4% e 1,0% de sua ROL, e que apenas quatro empresas constantes no relatório supramencionado fazem investimentos iguais ou maiores do que 1,0% da ROL, qual é a estratégia mais adequada para que o país adquira uma posição mais privilegiada no tocante à inovação? Aumentar o nível de investimento? Fomentar o desenvolvimento de empreendimentos espontâneos e privilegiar resultados obtidos nesse contexto? Privilegiar o usufruto de diferenciais competitivos alcançados por projetos de P&D, de tal maneira que sua qualidade aumente, gerando um maior número de inovações?

É necessário progredir nas estratégias que visam ao desenvolvimento do país e, em particular, do sistema elétrico brasileiro, uma vez que se torna clara certa discrepância entre as metas governamentais e dos vários setores da sociedade. Mais do que nunca, é hora de consolidar uma estratégia de cooperação entre os diversos componentes desse intricado quebra-cabeças.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Perda de tempo

A sensação de desperdício de potencial humano que me atormenta vem tomando proporções avassaladoras em minha mente, à medida que o tempo passa e os resultados dos empreendimentos nos diferentes âmbitos de minha jornada vão se consolidando e se evidenciando. Percebo o mesmo efeito na vida de outras pessoas que não apresentam uma postura e um comportamento do tipo "acomodado". Essas pessoas muitas vezes fogem do emprego como ele é normalmente conhecido em nosso meio. Muitas vezes tomam um rumo, como é frequentemente chamado, empreendedor. Entretanto, não devemos confundir a acepção que se refere ao tipo de trabalho, ou seja, deixar o emprego CLT e abrir um negócio, com a acepção que se refere ao empreendedorismo propriamente dito, que se caracteriza pela inquietude, pela rejeição ao comodismo, e, como não poderia deixar de ser, pelos empreendimentos consolidados e evidenciados, gerando resultados.

Empresas geridas pelo modelo industrial ainda hoje preconizam o controle do tempo como forma de garantir a eficiência do trabalho, o que, na era do conhecimento, caracteriza uma grande ilusão. Ao invés de "comprar o tempo das pessoas", as empresas que fazem uso do grande potencial intelectual das pessoas compram seus serviços, os benefícios trazidos por sua motivação, que é o motor de seu empreendedorismo. Há ainda outras empresas, em número ainda menor, que, além de usar o potencial intelectual, torna possível o uso do potencial criativo das pessoas, o que lhes confere a possibilidade de se sobressair em seu contexto, criar novos mercados e adquirir diferencial competitivo realmente sustentado.

É inconcebível que empresas hoje percam seu precioso tempo em tarefas administrativas de controle de tempo. E o pior é que essas tarefas administrativas não estão restritas ao pessoal administrativo. Pelo contrário, a maior perda de tempo é das próprias pessoas que necessitam solicitar abonos, justificar falta de registro de frequencia, acertar erros gerados pelo sistema, aguardar dois minutos na frente do relógio ponto para que o registro não se caracterize como irregular, armazenar na memória a hora exata em que registrou sua saída para que sua subsequente entrada não se dê em momento anterior ao que deveria. Todas essas atividades são aquelas que ocupam boa parte da mente e do tempo das pessoas que poderiam estar produzindo, pensando em perguntas, descobrindo respostas, criando soluções.

É notório que o rendimento das pessoas empreendedoras é inimaginavelmente (para usar um termo informal mas efetivo) maior onde elas têm liberdade para empreender do que no ambiente em que o que importa é o controle de seu tempo. Como empreendedoras que são, elas percebem a diferença de postura, a diferença de motivação que têm para desempenhar suas diferentes atividades, em seus respectivos contextos. Na empresa, o ambiente se torna pesado, fazendo-as sentir que o que a empresa deseja é que elas simplesmente estejam ali, de corpo presente. Tanto faz onde a mente está. O desempenho não importa. As soluções criadas são inúteis se a falta de registro de frequência não for justificada. Criar uma solução sem provar que estava presente proporciona à pessoa empreendedora a falta do pagamento que lhe é devido.

Vivemos na era do conhecimento. Quem sabe estejamos entrando na era da criatividade, para a qual não se conhece mecanismo de gestão, e nem sequer o seu mecanismo de funcionamento. Mas isso tudo é secundário. O importante é bater o ponto.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O efêmero sobrevivente e o verdadeiro expoente - a gestão por competência

Em plena era do conhecimento, os métodos de gestão adotados pelas empresas continuam insistindo em estruturas organizacionais com foco na área de aplicação em detrimento de um melhor aproveitamento do estoque de conhecimento que elas, sem saber ou pelo menos sem dar a devida atenção, detêm. Dessa maneira, prossegue a tendência de organização das áreas meio, por exemplo, na forma "a área 1 atende às demandas da área A e a área 2 atende às demandas da área B".

A estrutura organizacional hierárquica tende a incutir nas pessoas que detêm cargos a ilusão de poder sobre seus subordinados. Na era do conhecimento, entretanto, esse tipo de poder vem perdendo espaço. À medida que as gerações passam, o poder do conhecimento adquire maior importância, fazendo com que as pessoas o respeitem cada vez mais e o busquem com cada vez maior dedicação, dando menor importância ao aparente poder que cargos provêm.

Em um modelo organizacional altamente hierárquico, pessoas dotadas de poder advindo de cargos se apegam ao fato de que seus subordinados estão à sua mercê, e devem fazer tudo aquilo que mandarem. Porém, cresce a postura, especialmente nas gerações mais novas, de que tais ordens devem ser analisadas, para saber se vale ou não a pena segui-las, em detrimento de qualquer que sejam as consequências, trazendo um dinamismo maior às estruturas de trabalho.

Na gestão por competência, as relações hierárquicas se enfraquecem, dando lugar à oportunidade de aproveitar o estoque de conhecimento da empresa, alocando pessoas em atividades de acordo com sua competência e interesse. Adquire-se assim um diferencial competitivo importante, com base no conhecimento especializado e na motivação, o que desloca a ênfase dada ao formalismo processual para o valor pessoal. Nesse modelo, não importa mais que área atende a que área. Projetos são elaborados e desenvolvidos por equipes dinâmicas e competentes. Constituem-se grupos especializados, com liderança devidamente capacitada no conhecimento, de modo a grandemente aumentar as chances de sucesso.

Esse cenário, infelizmente, ainda não se mostra como realidade na maioria dos ambientes empresariais. Aqueles visionários que conseguem enxergar o potencial do conhecimento aliado à motivação tirarão grande proveito, o que lhes permitirá passar de efêmeros sobreviventes a verdadeiros expoentes.