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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Carga sociopolítica e sua natureza anti-inovação

Gostaria de traçar um paralelo entre a chamada "carga cognitiva" em sistemas virtuais de treinamento, tais como simuladores e games dedicados ao aprendizado, e aquilo que vou chamar de "carga sociopolítica" em uma organização empresarial. A primeira diz respeito ao esforço intelectual necessário para desempenhar as atividades que não estão diretamente ligadas ao processo de aprendizado, mas sim ao manuseio direto do sistema virtual. Quanto maior for a carga cognitiva, maior será a parcela de força intelectual que não é, de fato, utilizada para o aprendizado propriamente dito. Idealmente, um sistema virtual de treinamento deveria ter carga cognitiva nula para que todo o intelecto do aprendiz esteja focado naquilo que realmente interessa.

A carga sociopolítica de uma empresa é análoga à carga cognitiva, e diz respeito àquelas atividades que não se conectam diretamente à geração de valor. Normalmente a carga sociopolítica de uma empresa é alta quanto mais hierarquizada ela for, dando maior relevância a posições sociopolíticas. As tramas tribais que regem as atividades da carga sociopolítica desviam grande parte do intelecto existente na empresa para parâmetros que não trazem qualquer valor para a empresa e, portanto, fúteis. O exemplo mais comum de carga sociopolítica é constituído dos típicos enredos que acabam por determinar a divisão do poder na empresa, que normalmente se concretizam em alianças clandestinas de confiança e benefício mútuo, com intrínseco aspecto imoral. Afinal, aquilo que se faz escondido parece sempre se afastar da moralidade.

Da mesma maneira que no caso da carga cognitiva, parece natural que quanto maior for a carga sociopolítica em uma empresa, maior será a parcela de força que não será usada para os propósitos específicos inerentes aos seus negócios. As forças que regem a carga sociopolítica possuem uma característica agravante, a saber, a de prezar a estabilidade, uma vez que seus adeptos, com exceção de alguns possíveis esquecidos, quem sabe merecedores de algum castigo, estão confortavelmente gozando o ápice de suas medíocres carreiras (sim, medíocres, uma vez que posições são momentâneas e que, em contrapartida, obras permanecem), pelo menos até aquele momento. Ora, a estabilidade leva ao continuísmo e, este, por sua vez, lutará com todas as suas forças contra qualquer espécie de ameaça, tais como ideias provindas de mentes voltadas à criatividade e a gerar novas soluções. Assim, a carga sociopolítica se torna uma ferrenha inimiga da inovação.

A partir desse momento, as pessoas criativas que ainda tenham a determinação e a motivação para prosseguir em suas buscas começam a esmorecer, pois descobrem que estão lidando com forças que tornam a batalha desigual. Começam a perder as esperanças e, a partir daí, um processo de descrédito progressivo é iniciado, o qual não pode passar despercebido, e acaba por ser captado por outras mentes, minando ainda mais o potencial criativo da empresa. A tendência dessas pessoas, grandemente afetadas pela carga sociopolítica, é a de procurar a realização de seus empreendimentos alhures. Ao perder esse capital intelectual e empreendedor, a empresa se afunda ainda mais no ambiente tribal estabelecido.

As poucas que restarem, seja por determinação ou vã esperança na reputação da empresa onde trabalham, estarão sujeitas às ordens de incompetentes assoberbados, os quais farão de tudo em prol do controle, estipulando mecanismos de vigilância contra a desobediência e, portanto, contra o empreendedorismo. O empreendedorismo e a inovação são atividades de desobediência, de divergência e de antagonismo. São essas atividades que fazem as perguntas que normalmente não se querem ouvir. Este é o motivo pelo qual muitas empresas dizem querer buscar a inovação e ao mesmo tempo nunca estarão aptas para tal.