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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O primeiro passo para um ambiente voltado à inovação

Muito se tem falado em empresas de diversos setores sobre inovação. Aliás, muitas delas adotam discursos de que têm a inovação como meta, como se isso exercesse algum impacto positivo sob algum aspecto na imagem da empresa. Não obstante essa aparente busca das empresas por inovação, deve-se chamar a atenção para o fato de que ela não acontece por decreto. Muitos têm feito a tentativa de decretar que a inovação aconteça, porém sem sucesso.

Um dos principais motivos que dificultam a inovação em empresas é a cultura gerencial especialmente focada nos antigos preceitos da revolução industrial, os quais dão certo ar de "colonialismo". Neste pais, especialmente, essa conotação parece saltar aos olhos, pois são práticas adotadas em muitas empresas multinacionais que adentram o país a fim de desbravá-lo e remeter às suas origens a riqueza extraída. Essa cultura é baseada na forte organização hierárquica, a qual, por definição, é avessa ao extremo à inovação, pois seu contexto não permite o exercício de atividades que lhe dão sustentação.

Mas o que é preciso fazer para virar a mesa e iniciar uma cultura voltada à inovação? Um dos caminhos é criar, como primeiro passo, um ambiente piloto. O problema do ambiente piloto é que ele necessariamente deverá ser regido por diretrizes distintas ao restante da empresa. Mas talvez não haja como fugir disso. Pelo método de gestão adotado hoje na maior parte das empresas no país, simplesmente não é possível criar um ambiente voltado à inovação. Os muros hierárquicos devem ser derrubados. Não soa correto, em um ambiente inovador, alguém se referir a outrem como, por exemplo, "meu gerente" ou "seu gerente". Na verdade, não existe esse papel. Pode sim - e talvez deva - existir um líder. Líderes "acontecem" naturalmente em ambientes empreendedores. Esse tipo de líder é o oposto ao que conhecemos por gerente, pois ele está presente para ensinar, para abrir portas, ou seja, para servir. Esse tipo de valor está muito distante até mesmo da concepção na mente dos atuais gestores.

Quando a organização diz que tal pessoa é gerente de tal pessoa, decididamente não se está falando sobre pessoas criativas inseridas em um ambiente voltado à inovação. Pessoas verdadeiramente criativas e empreendedoras não têm gerentes. Elas mesmas são suas gerentes. Poder-se-ia argumentar que este é apenas um mero detalhe, e que as pessoas não devem se ater a pequenos detalhes, como se estivessem reclamando do assim chamado sistema. Mas não é um pequeno detalhe. Esse fato denota muito bem a estrutura organizacional da empresa e evidencia o fato de que ela está muito longe de alcançar sua provável meta de gerar inovações. Reitera-se: a inovação não acontece por decreto.

Indo um pouco além na questão da estrutura organizacional: que aspecto fica evidenciado ao se hierarquizar até mesmo o tratamento entre pessoas? Resposta: o controle. Se uma pessoa é gerente de outra, o que está acontecendo é que uma está controlando a outra, e a pessoa controlada não tem qualquer tipo de autonomia para empreender. Ora, sabe-se, e não há como negar, que o controle anda em direção oposta à criatividade. E se a criatividade é o principal ingrediente da inovação, conclui-se facilmente que esse ambiente é avesso à inovação. Uma pessoa criativa e empreendedora "debaixo" - de acordo com o jargão comumente usado nas empresas - de uma pessoa controladora está aos poucos sendo massacrada, e com ela está sendo desperdiçada uma oportunidade singular, para a empresa, de fazer algo novo. Em um ambiente inovador, não se pede autorização. Faz-se. O líder nesse ambiente, aos olhos de uma empresa cujo modelo de gestão é baseado nos preceitos da antiga revolução industrial, é um fraco, pois não manda nada. Entretanto, na realidade, o líder é aquele que sabe extrair das pessoas criativas e empreendedoras o máximo de sua capacidade. Como? Simplesmente encarando seu papel como a arte de abrir portas e injetar nas pessoas a motivação de que precisam para ir em frente em suas próprias obras. São elas que irão garantir a sobrevivência da corporação e, quem sabe, seu despontar como empresa inovadora.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Editorial da edição 19 da Espaço Energia - transferência de tecnologia

Os resultados oriundos de programas de P&D, não apenas no setor elétrico, têm chamado a atenção de empresas para o valor do investimento em conhecimento e tecnologia em longo prazo. A literatura científica relata diversos estudos realizados com o objetivo de analisar a eficácia de mecanismos usados para a realização de empreendimentos de P&D, dentre eles as parcerias entre o setor produtivo e a academia e centros de pesquisa. Segundo o artigo intitulado "R&D Venture: proposition of a technology transfer concept for breakthrough technologies with R&D cooperation: A case study in the energy sector", de S Hess e R Y Siegwart, de abril de 2013, a parceria constitui um modo prático de realizar transferência de tecnologia e explorar seu futuro mediante cooperação em P&D. O artigo realiza um estudo de caso focado no setor de energia, e recomenda a cuidadosa compreensão das diferentes perspectivas do conceito por parte da indústria, da academia e das parcerias propriamente ditas.

Mas antes de prosseguir na exploração das diferentes perspectivas do conceito de transferência de tecnologia, creio ser importante relembrar e discutir os significados de "tecnologia" e "transferência de tecnologia", segundo definições encontradas em glossários tais como o da FINEP e Wikipedia. O termo tecnologia se refere ao conjunto ordenado de conhecimentos empregados na produção e comercialização de bens e serviços, e que está integrado não só por conhecimentos científicos, provenientes das ciências naturais, sociais e humanas, mas igualmente por conhecimentos empíricos que resultam de observações, experiência, atitudes específicas e tradição oral e escrita. O termo "transferência de tecnologia" se refere à transferência de conhecimento técnico ou científico (por exemplo: resultados de pesquisas e investigações científicas) em combinação com fatores de produção, estando intimamente relacionado a "tornar disponível para indivíduos, empresas ou governos habilidades, conhecimentos, tecnologias, métodos de manufatura, tipos de manufatura e outras facilidades", com o objetivo de assegurar que o desenvolvimento científico e tecnológico seja mais amplamente acessível à sociedade.

Portanto, é possível que as perspectivas por parte das diferentes instâncias corriqueiramente impinjam alguma interpretação errônea. Por exemplo, é possível que a indústria ou mesmo a academia tendam a considerar tecnologia como um conjunto de ferramentais e, por consequência, transferência de tecnologia como a disponibilização de um produto acabado e funcional, excluindo o conhecimento envolvido. Entretanto, ambos os termos se referem a um arcabouço complexo que se inicia na obtenção do conhecimento. Ora, se o conhecimento é um dos ingredientes principais nesse contexto, como se faz para transferi-lo?

O grande desafio para a transferência de tecnologia e, portanto, de conhecimento se materializa no aprendizado. Para aprender, é necessário participar. O setor industrial deve, ao participar de um empreendimento de P&D, por exemplo, participar ativamente da geração do conhecimento, uma vez que esta remete diretamente ao aprendizado. Em outras palavras, o conceito inerente a muitos programas de P&D deve ser repensado. Em vez de transferir produtos desenvolvidos, deve-se promover a integração de todos os parceiros na geração do conhecimento. Entretanto, é notório que a cultura empresarial neste país, em sua maioria, repudia o exercício de atividades de P&D "por não gerarem benefícios práticos" e a cultura acadêmica, também em sua maioria, procura afastar a interação com o setor produtivo para não se contaminar com o foco exclusivo na prática. Ambas as posturas precisam ser revisadas. Os conceitos dos agentes de fomento também devem ser revisados, com o objetivo de promover a geração de tecnologia, ou, como exposto acima, a geração de conhecimento que pode, por sua vez, criar grande valor.

Assim, voltando ao ponto defendido pelos autores mencionados no primeiro parágrafo, a transferência de tecnologia mediante parcerias e cooperações em P&D é um assunto muito mais profundo do que tem sido percebido pela sociedade brasileira. Não se trata apenas de estabelecer um mecanismo para fazer fluir o conhecimento gerado na academia para atingir um produto almejado pela empresa, mas sim de uma interação em que ambos os conhecimentos, científico e prático, interagem como forma de criar tecnologia e, consequentemente, diferencial competitivo e excelência.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Falta senso crítico

Tenho ficado recentemente assustado e até mesmo estupefato com certos acontecimentos, certos procedimentos, certas decisões em contextos em que se esperava no mínimo uma pequena demonstração de competência. O que mais me assombra é que, ao analisar as pessoas envolvidas, parece não existir uma relação linear, ou mesmo polinomial, entre a competência formal, com base em seu histórico de formação, e a linha de pensamento por elas adotada. Posto isso, podemos lucubrar sobre os motivos para esse estranho comportamento.

A primeira conjectura é uma séria deficiência no processo educacional. As pessoas não conseguem exercer sua potencial inteligência porque não lhes foram ensinados os fundamentos do senso crítico. Em discursos de formatura, ouvimos (e às vezes proferimos) frases baseadas no conceito "mais importante do que saber as respostas é saber fazer as perguntas". Mas... será que temos aprendido a fazer perguntas na escola? Parece que não. Parece que o que realmente se quer é elevar os índices numéricos do país e chegar a um ponto em que possamos dizer para o mundo que aproximadamente 100% das pessoas têm curso superior. Claro, não estamos analisando o nível dos cursos superiores, pois, afinal, como podemos avaliar o nível de um curso superior se seus alunos não têm a base necessária para cursá-lo? Aliás, por que deveríamos nos preocupar com isso, pois o mais importante é o número, ou seja, a quantidade, e não a qualidade, não é mesmo?... Mas lembrem-se: os resultados falarão por si.

Estamos baixando o nível do ensino sob o pretexto da inclusão. O ensino deve se dar desde o nascimento. Isso, sim, é inclusão. Todos devem ter acesso, se possível, às mesmas oportunidades de crescimento. Entretanto, as pessoas diferem umas das outras. Em qualquer país desenvolvido, formam-se em curso superior apenas aqueles que adquiriram, de acordo com critérios pré-estabelecidos, sem entrar no mérito de sua pertinência, a capacidade para se formar e exercer a respectiva profissão. Ao forçar pessoas a serem o que não são e nem devem ser, estamos injetando em suas mentes respostas prontas, porém estamos também muito longe de ensiná-las a fazer perguntas. E o diferencial da competência é justamente esse: saber fazer perguntas, ou seja, senso crítico.

Agora vamos imaginar que o problema da educação não exista. O que poderia fazer com que as pessoas em papeis de liderança fugissem de sua responsabilidade de pensar? Por que temos visto neste país tantas estratégias equivocadas, tantos erros de gestão, tantas coisas mal feitas, enfim, tantos fiascos? Por que as pessoas têm esquecido de pensar? Vem-me à mente a saga "Star Trek" e a célebre frase dos "Borgs": "Resistir é inútil. Você será assimilado". A partir daí a pessoa passa a ser apenas uma peça no maquinário, teoricamente para o bem de todos. Hoje em dia, vemos as pessoas assimiladas pela força vigente, que preconiza a ignorância, a carência de um mínimo de qualidade, a prática destituída de teoria, o "sair fazendo" destituído de conhecimento, o repetir destituído de senso crítico.

Parece que todo mundo está entorpecido pelo poder. Ou parece que todo mundo está simplesmente entorpecido. Parece que não é mais permitido pensar. Parece que todos realizam uma atividade adotando certo procedimento porque foram assimilados para tal. Ninguém questiona. A desculpa mais ouvida para se defender uma ação absurda é que, apesar de parecer irracional, é necessário. O resultado é mais importante do que o conceito. Mas será que o resultado vai ser mesmo alcançado? E assim são desperdiçados os recursos que deveriam ser empregados para o bem da sociedade. As pessoas de bom senso vão pagando um preço alto demais  para viver em sanidade. Os honestos pagam a parcela dos que sonegam imposto, os que se  esforçam pagam a parcela dos que não se esforçam, a sociedade paga a conta da corrupção porque ela é, no fundo, considerada normal, os que apreciam sair para jantar com a família e beber um cálice de vinho pagam por aqueles que fazem da bebida uma arma. Isso é irracional. Isso é falta de senso crítico. Mesmo assim é normal.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Editorial Espaço Energia 18 - Redes de pesquisa exigem vínculos perenes

Em seu comunicado número 152, de 2012, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) analisa as interações entre instituições acadêmicas e as empresas do setor elétrico no contexto do desenvolvimento de projetos de P&D. Nas conclusões, é mencionado o fato de que as estruturas de P&D das empresas ainda são fortemente voltadas aos requisitos burocráticos do programa. O estudo intitulado “P&D nos setores público e privado no Brasil: complementares ou substitutos?”, de Velho, Velho e Saenz, de 2004, defende que, apesar do incentivo à interação entre os setores acadêmico e empresarial, focado em empreendimentos específicos, não há investimento por parte das empresas, de modo geral, em infraestrutura própria de P&D. Com isso, os vínculos não se tornam perenes e, portanto, a formação de redes de pesquisa de caráter duradouro é prejudicada.

Um olhar informal sobre essa informação e sobre outras publicações recentes no tema permite-nos concluir que falta no setor empresarial uma postura mais ousada quanto a P&D. Seu principal resultado, que é o conhecimento gerado, que pode levar à aquisição de diferencial competitivo sustentável, normalmente deixa de ser assimilado pela empresa, devido à fragilidade do mecanismo de interação. Em outras palavras, a empresa deixa de se apropriar do principal resultado do P&D, porque não participa efetivamente da geração do conhecimento.


“Construir a ponte sobre o abismo existente entre a academia e a indústria” exige uma nova postura de gestão. O principal motivo para isso é que empreender P&D com vistas à inovação constitui uma atividade distinta das demais atividades empresariais, repleta de incertezas, e para as quais não há domínio de todo o conhecimento envolvido. Do contrário, não haveria geração de conhecimento. Métodos tradicionais de gestão tendem a afastar incertezas e minimizar riscos, e assim agem em direção oposta à natureza de atividades de P&D.


O setor industrial brasileiro e mundial tem muito a ganhar com a interação com o setor acadêmico, especialmente em mercados dinâmicos, onde a inovação passa a ter papel fundamental para a sustentabilidade das empresas. Uma nova postura empresarial em que a empresa efetivamente participa dos trabalhos baseados em conhecimento especializado e na criatividade científica será essencial para que esses ganhos possam enfim se concretizar.


Muitos serão os benefícios dessa nova postura ao país, mas o principal deles constitui-se em inovações para as quais o país já possui ingredientes suficientes, e que permitirão colher os frutos de seu próprio investimento. Porém, para chegar a essa nova postura e colher esses resultados, é necessário quebrar paradigmas, pensar diferente, testar novas configurações, promover experimentações e, enfim, valorizar a criatividade. O primeiro passo é deixar de tentar realizar atividades de diferentes naturezas usando sempre as mesmas técnicas.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O meio-fio


Recentemente tive oportunidade de fazer uma visita a um país do dito "primeiro mundo". Dessa vez, foi uma viagem de turismo, com toda a família. Ao chegar lá, quis demonstrar ao meu filho mais velho as diferenças entre nosso país e aquele país desenvolvido. Poderia já ter mencionado coisas no próprio aeroporto, já que a diferença de qualidade nas coisas é simplesmente gritante. Mas resolvi esperar chegar até a rua. Para enfatizar a diferença de qualidade, elegi uma coisa muito simples para comparação, esperando com isso fazê-lo entender que, se um elemento simples daquele era tão melhor naquele país, poderíamos facilmente imaginar o quanto seriam as outras coisas. Assim, elegi o meio-fio. Mostrei para ele o meio-fio, e ele ficou olhando e sorrindo. Tinha tanta coisa tão melhor para ser vista, e nós ali observando o meio-fio.

A partir daí iniciamos uma troca de ideias a respeito da diferença de qualidade na infraestrutura, nos serviços, enfim, em tudo. Não demorou muito para fazermos a pergunta: "por que não podemos ser assim também?". Depois de algumas argumentações, chegamos à conclusão que a primeira e primordial diferença, após observar a postura das pessoas naquele país, é que as pessoas desejam ser as melhores em cada coisa que fazem. Elas não querem ser "meia-boca". Ser meia-boca não é aceitável. Jeitinho? Definitivamente não!

Outra característica marcante é a qualidade de seus sonhos. Daí começam a vir à mente acontecimentos da história recente, ou pelo menos não tão remota. "Nós iremos à lua". Desculpem, acabei de revelar qual é o país. Mas também não era tão segredo assim, era? Que loucura de sonho é esse? Alguém da retaguarda retrucante argumentaria: "mas, afinal, para que ir para a lua?". Sim, para que? Simples, para obter conhecimento para fazer muitas outras coisas extremamente importantes, das quais essas pessoas raramente se dão conta, e cujos impactos em nosso dia a dia elas minimizam, como se fossem coisas fúteis.

Quando se trata de adquirir conhecimento para o bem da humanidade, não há empreendimento inútil. E quem realiza o investimento é quem adquire domínio sobre o conhecimento gerado e, principalmente, sobre os benefícios dele advindos. Se pudermos estender um pouco essa ideia, o conhecimento é fruto do sonho, que muitas vezes parece coisa absurda, tão absurda quanto ir à lua.

Infelizmente, em nossa terra, nós nos contentamos com o que temos. As coisas normalmente servem para seus propósitos, ou quase servem. Está bem, às vezes nem para seus propósitos servem. Por que? Porque nós nos contentamos com pouco. Meia-boca para nós está mais do que bom. Afinal, para que ser o melhor do mundo? Para que ter as conquistas mais relevantes do mundo? Para que ser reconhecido como a maior potência do mundo?

Conclusão: Enquanto este país não adquirir uma nova postura, a postura do sonho, da qualidade, da realização, do querer ser o melhor possível, não seremos mais do que coadjuvantes. Teremos casas, carros, pontes, estradas, telefones, computadores, tecnologia, serviços, saúde, qualidade de vida, tudo meia-boca. Quando estaremos em condições de ser o melhor possível? Poderíamos eleger um parâmetro de comparação bem simples: o meio-fio.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Editorial Espaço Energia 17 - Inovação tecnológica - movimento e postura


Temos visto no país, ultimamente, um movimento significativo em prol da inovação tecnológica. Isso tem sido evidenciado por diversas iniciativas do setor empresarial, mediante a realização de eventos com base na interação com o setor acadêmico, e também do setor governamental, com a instauração de leis de incentivo federais e estaduais. Um dos principais objetivos desse movimento é fazer o país despontar como detentor de competência baseada no conhecimento especializado e na criatividade na concepção de soluções.

As experiências nesse contexto, entretanto, levam à identificação de pontos que precisam urgente atenção, citados a seguir, não necessariamente em ordem de importância. A primeira delas é a equiparação de postura por parte dos setores responsáveis pela gestão de recursos, cuja mentalidade ainda se mostra na contramão da inovação. A segunda é a educação, cuja prática ainda preconiza o aprendizado unidirecional, em que o professor, detentor do conhecimento, procura transmitir seus ensinamentos aos alunos, porém, na maior parte dos casos, sem promover interação. Modelos modernos fazem maior uso da pesquisa, da interação, da complexidade e da retroalimentação. A terceira, e por ora última, é a dificuldade de interação existente, de um modo geral, entre os dois setores, academia e indústria, recorrentemente mencionada nos editoriais deste periódico.

Fóruns focados na interação entre os dois setores com vistas à fundamentação de empreendimentos de P&D e de inovação tecnológica, apesar de terem promovido a evolução da postura de cientistas e empresários nos últimos anos, ainda encalham no mesmo problema: empresários buscando soluções pontuais ao invés de investir na produção de conhecimento especializado como forma de adquirir diferenciação competitiva sustentável e cientistas procurando financiadores para projetos que visam apenas à produção acadêmica, estabelecimento de infraestrutura e bolsas para alunos. Além disso, ainda são evidentes distorções na prática de grupos de pesquisa que lutam entre si, ao invés de se unirem em torno de um fim mais nobre.

Não obstante tudo isso, o país tem demonstrado ao mundo seu potencial, pois é hoje responsável por parcela significativa da produção intelectual. Mais cedo ou mais tarde chegará o tempo em que o país saberá colher os frutos de seu investimento. A interação entre os dois setores é essencial. De um lado, a academia fazendo uso de seu conhecimento especializado para trazer benefícios práticos à sociedade. De outro lado, a indústria investindo em P&D, e dele efetivamente participando, não apenas para obter um resultado concreto, como um produto, mas principalmente o conhecimento especializado, como forma de diferenciação sustentável e emancipação.