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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O meio-fio


Recentemente tive oportunidade de fazer uma visita a um país do dito "primeiro mundo". Dessa vez, foi uma viagem de turismo, com toda a família. Ao chegar lá, quis demonstrar ao meu filho mais velho as diferenças entre nosso país e aquele país desenvolvido. Poderia já ter mencionado coisas no próprio aeroporto, já que a diferença de qualidade nas coisas é simplesmente gritante. Mas resolvi esperar chegar até a rua. Para enfatizar a diferença de qualidade, elegi uma coisa muito simples para comparação, esperando com isso fazê-lo entender que, se um elemento simples daquele era tão melhor naquele país, poderíamos facilmente imaginar o quanto seriam as outras coisas. Assim, elegi o meio-fio. Mostrei para ele o meio-fio, e ele ficou olhando e sorrindo. Tinha tanta coisa tão melhor para ser vista, e nós ali observando o meio-fio.

A partir daí iniciamos uma troca de ideias a respeito da diferença de qualidade na infraestrutura, nos serviços, enfim, em tudo. Não demorou muito para fazermos a pergunta: "por que não podemos ser assim também?". Depois de algumas argumentações, chegamos à conclusão que a primeira e primordial diferença, após observar a postura das pessoas naquele país, é que as pessoas desejam ser as melhores em cada coisa que fazem. Elas não querem ser "meia-boca". Ser meia-boca não é aceitável. Jeitinho? Definitivamente não!

Outra característica marcante é a qualidade de seus sonhos. Daí começam a vir à mente acontecimentos da história recente, ou pelo menos não tão remota. "Nós iremos à lua". Desculpem, acabei de revelar qual é o país. Mas também não era tão segredo assim, era? Que loucura de sonho é esse? Alguém da retaguarda retrucante argumentaria: "mas, afinal, para que ir para a lua?". Sim, para que? Simples, para obter conhecimento para fazer muitas outras coisas extremamente importantes, das quais essas pessoas raramente se dão conta, e cujos impactos em nosso dia a dia elas minimizam, como se fossem coisas fúteis.

Quando se trata de adquirir conhecimento para o bem da humanidade, não há empreendimento inútil. E quem realiza o investimento é quem adquire domínio sobre o conhecimento gerado e, principalmente, sobre os benefícios dele advindos. Se pudermos estender um pouco essa ideia, o conhecimento é fruto do sonho, que muitas vezes parece coisa absurda, tão absurda quanto ir à lua.

Infelizmente, em nossa terra, nós nos contentamos com o que temos. As coisas normalmente servem para seus propósitos, ou quase servem. Está bem, às vezes nem para seus propósitos servem. Por que? Porque nós nos contentamos com pouco. Meia-boca para nós está mais do que bom. Afinal, para que ser o melhor do mundo? Para que ter as conquistas mais relevantes do mundo? Para que ser reconhecido como a maior potência do mundo?

Conclusão: Enquanto este país não adquirir uma nova postura, a postura do sonho, da qualidade, da realização, do querer ser o melhor possível, não seremos mais do que coadjuvantes. Teremos casas, carros, pontes, estradas, telefones, computadores, tecnologia, serviços, saúde, qualidade de vida, tudo meia-boca. Quando estaremos em condições de ser o melhor possível? Poderíamos eleger um parâmetro de comparação bem simples: o meio-fio.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Editorial Espaço Energia 17 - Inovação tecnológica - movimento e postura


Temos visto no país, ultimamente, um movimento significativo em prol da inovação tecnológica. Isso tem sido evidenciado por diversas iniciativas do setor empresarial, mediante a realização de eventos com base na interação com o setor acadêmico, e também do setor governamental, com a instauração de leis de incentivo federais e estaduais. Um dos principais objetivos desse movimento é fazer o país despontar como detentor de competência baseada no conhecimento especializado e na criatividade na concepção de soluções.

As experiências nesse contexto, entretanto, levam à identificação de pontos que precisam urgente atenção, citados a seguir, não necessariamente em ordem de importância. A primeira delas é a equiparação de postura por parte dos setores responsáveis pela gestão de recursos, cuja mentalidade ainda se mostra na contramão da inovação. A segunda é a educação, cuja prática ainda preconiza o aprendizado unidirecional, em que o professor, detentor do conhecimento, procura transmitir seus ensinamentos aos alunos, porém, na maior parte dos casos, sem promover interação. Modelos modernos fazem maior uso da pesquisa, da interação, da complexidade e da retroalimentação. A terceira, e por ora última, é a dificuldade de interação existente, de um modo geral, entre os dois setores, academia e indústria, recorrentemente mencionada nos editoriais deste periódico.

Fóruns focados na interação entre os dois setores com vistas à fundamentação de empreendimentos de P&D e de inovação tecnológica, apesar de terem promovido a evolução da postura de cientistas e empresários nos últimos anos, ainda encalham no mesmo problema: empresários buscando soluções pontuais ao invés de investir na produção de conhecimento especializado como forma de adquirir diferenciação competitiva sustentável e cientistas procurando financiadores para projetos que visam apenas à produção acadêmica, estabelecimento de infraestrutura e bolsas para alunos. Além disso, ainda são evidentes distorções na prática de grupos de pesquisa que lutam entre si, ao invés de se unirem em torno de um fim mais nobre.

Não obstante tudo isso, o país tem demonstrado ao mundo seu potencial, pois é hoje responsável por parcela significativa da produção intelectual. Mais cedo ou mais tarde chegará o tempo em que o país saberá colher os frutos de seu investimento. A interação entre os dois setores é essencial. De um lado, a academia fazendo uso de seu conhecimento especializado para trazer benefícios práticos à sociedade. De outro lado, a indústria investindo em P&D, e dele efetivamente participando, não apenas para obter um resultado concreto, como um produto, mas principalmente o conhecimento especializado, como forma de diferenciação sustentável e emancipação.