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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Editorial Espaço Energia 18 - Redes de pesquisa exigem vínculos perenes

Em seu comunicado número 152, de 2012, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) analisa as interações entre instituições acadêmicas e as empresas do setor elétrico no contexto do desenvolvimento de projetos de P&D. Nas conclusões, é mencionado o fato de que as estruturas de P&D das empresas ainda são fortemente voltadas aos requisitos burocráticos do programa. O estudo intitulado “P&D nos setores público e privado no Brasil: complementares ou substitutos?”, de Velho, Velho e Saenz, de 2004, defende que, apesar do incentivo à interação entre os setores acadêmico e empresarial, focado em empreendimentos específicos, não há investimento por parte das empresas, de modo geral, em infraestrutura própria de P&D. Com isso, os vínculos não se tornam perenes e, portanto, a formação de redes de pesquisa de caráter duradouro é prejudicada.

Um olhar informal sobre essa informação e sobre outras publicações recentes no tema permite-nos concluir que falta no setor empresarial uma postura mais ousada quanto a P&D. Seu principal resultado, que é o conhecimento gerado, que pode levar à aquisição de diferencial competitivo sustentável, normalmente deixa de ser assimilado pela empresa, devido à fragilidade do mecanismo de interação. Em outras palavras, a empresa deixa de se apropriar do principal resultado do P&D, porque não participa efetivamente da geração do conhecimento.


“Construir a ponte sobre o abismo existente entre a academia e a indústria” exige uma nova postura de gestão. O principal motivo para isso é que empreender P&D com vistas à inovação constitui uma atividade distinta das demais atividades empresariais, repleta de incertezas, e para as quais não há domínio de todo o conhecimento envolvido. Do contrário, não haveria geração de conhecimento. Métodos tradicionais de gestão tendem a afastar incertezas e minimizar riscos, e assim agem em direção oposta à natureza de atividades de P&D.


O setor industrial brasileiro e mundial tem muito a ganhar com a interação com o setor acadêmico, especialmente em mercados dinâmicos, onde a inovação passa a ter papel fundamental para a sustentabilidade das empresas. Uma nova postura empresarial em que a empresa efetivamente participa dos trabalhos baseados em conhecimento especializado e na criatividade científica será essencial para que esses ganhos possam enfim se concretizar.


Muitos serão os benefícios dessa nova postura ao país, mas o principal deles constitui-se em inovações para as quais o país já possui ingredientes suficientes, e que permitirão colher os frutos de seu próprio investimento. Porém, para chegar a essa nova postura e colher esses resultados, é necessário quebrar paradigmas, pensar diferente, testar novas configurações, promover experimentações e, enfim, valorizar a criatividade. O primeiro passo é deixar de tentar realizar atividades de diferentes naturezas usando sempre as mesmas técnicas.

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