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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Editorial da edição 19 da Espaço Energia - transferência de tecnologia

Os resultados oriundos de programas de P&D, não apenas no setor elétrico, têm chamado a atenção de empresas para o valor do investimento em conhecimento e tecnologia em longo prazo. A literatura científica relata diversos estudos realizados com o objetivo de analisar a eficácia de mecanismos usados para a realização de empreendimentos de P&D, dentre eles as parcerias entre o setor produtivo e a academia e centros de pesquisa. Segundo o artigo intitulado "R&D Venture: proposition of a technology transfer concept for breakthrough technologies with R&D cooperation: A case study in the energy sector", de S Hess e R Y Siegwart, de abril de 2013, a parceria constitui um modo prático de realizar transferência de tecnologia e explorar seu futuro mediante cooperação em P&D. O artigo realiza um estudo de caso focado no setor de energia, e recomenda a cuidadosa compreensão das diferentes perspectivas do conceito por parte da indústria, da academia e das parcerias propriamente ditas.

Mas antes de prosseguir na exploração das diferentes perspectivas do conceito de transferência de tecnologia, creio ser importante relembrar e discutir os significados de "tecnologia" e "transferência de tecnologia", segundo definições encontradas em glossários tais como o da FINEP e Wikipedia. O termo tecnologia se refere ao conjunto ordenado de conhecimentos empregados na produção e comercialização de bens e serviços, e que está integrado não só por conhecimentos científicos, provenientes das ciências naturais, sociais e humanas, mas igualmente por conhecimentos empíricos que resultam de observações, experiência, atitudes específicas e tradição oral e escrita. O termo "transferência de tecnologia" se refere à transferência de conhecimento técnico ou científico (por exemplo: resultados de pesquisas e investigações científicas) em combinação com fatores de produção, estando intimamente relacionado a "tornar disponível para indivíduos, empresas ou governos habilidades, conhecimentos, tecnologias, métodos de manufatura, tipos de manufatura e outras facilidades", com o objetivo de assegurar que o desenvolvimento científico e tecnológico seja mais amplamente acessível à sociedade.

Portanto, é possível que as perspectivas por parte das diferentes instâncias corriqueiramente impinjam alguma interpretação errônea. Por exemplo, é possível que a indústria ou mesmo a academia tendam a considerar tecnologia como um conjunto de ferramentais e, por consequência, transferência de tecnologia como a disponibilização de um produto acabado e funcional, excluindo o conhecimento envolvido. Entretanto, ambos os termos se referem a um arcabouço complexo que se inicia na obtenção do conhecimento. Ora, se o conhecimento é um dos ingredientes principais nesse contexto, como se faz para transferi-lo?

O grande desafio para a transferência de tecnologia e, portanto, de conhecimento se materializa no aprendizado. Para aprender, é necessário participar. O setor industrial deve, ao participar de um empreendimento de P&D, por exemplo, participar ativamente da geração do conhecimento, uma vez que esta remete diretamente ao aprendizado. Em outras palavras, o conceito inerente a muitos programas de P&D deve ser repensado. Em vez de transferir produtos desenvolvidos, deve-se promover a integração de todos os parceiros na geração do conhecimento. Entretanto, é notório que a cultura empresarial neste país, em sua maioria, repudia o exercício de atividades de P&D "por não gerarem benefícios práticos" e a cultura acadêmica, também em sua maioria, procura afastar a interação com o setor produtivo para não se contaminar com o foco exclusivo na prática. Ambas as posturas precisam ser revisadas. Os conceitos dos agentes de fomento também devem ser revisados, com o objetivo de promover a geração de tecnologia, ou, como exposto acima, a geração de conhecimento que pode, por sua vez, criar grande valor.

Assim, voltando ao ponto defendido pelos autores mencionados no primeiro parágrafo, a transferência de tecnologia mediante parcerias e cooperações em P&D é um assunto muito mais profundo do que tem sido percebido pela sociedade brasileira. Não se trata apenas de estabelecer um mecanismo para fazer fluir o conhecimento gerado na academia para atingir um produto almejado pela empresa, mas sim de uma interação em que ambos os conhecimentos, científico e prático, interagem como forma de criar tecnologia e, consequentemente, diferencial competitivo e excelência.

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