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sexta-feira, 4 de março de 2011

da invenção à inovação - artigo publicado na Gazeta do Povo - Opinião - 27/09/2008

Recentemente foi divulgado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) o resultado do edital do Programa de Subvenção Pesquisador na Empresa, que contava com uma verba total de R$ 60 milhões. O objetivo da carta-convite era incentivar as empresas a empregarem pesquisadores que desenvolvam projetos que possam gerar inovação. Em linhas gerais, projetos aprovados no programa podiam contemplar a contratação de pesquisadores cujos salários e encargos seriam subvencionados em 40 ou 60%, dependendo da região geográfica.

Foram aprovados 37 projetos, segundo o site da Finep, que contemplavam a contratação de 132 pesquisadores, sendo 84 mestres e 48 doutores. O valor total dos projetos aprovados somou R$ 10,5 milhões, o que representa 17,5% do total disponível. Esses números mostram que ainda há um longo caminho a percorrer para que a indústria brasileira tome consciência de que a inovação gerada por meio de conhecimento especializado é um mecanismo importante para a conquista de diferencial competitivo sustentado e, em casos mais críticos, pode significar a própria sobrevivência de empresas no mercado inerentemente dinâmico que nos aguarda no futuro próximo.

No Brasil, existe uma barreira entre a academia e a indústria que faz com que, apesar de o país apresentar uma contribuição significativa na produção científica mundial, a dificuldade de transformar invenções científicas em inovações práticas se acentue cada vez mais. Com isso, o país perde, deixando de gerar dividendos, tanto em termos de experiência e conhecimento quanto em termos de benefícios à sociedade.

Existem programas de fomento à produção científica que inerentemente contribuem para acentuar essa barreira, uma vez que eles prescindem de mecanismos que incentivem o envolvimento das indústrias, dificultando a evidência dos resultados obtidos por meio da aplicação prática.

Esse edital é um esforço governamental para ajudar a indústria do país a acordar. Mas, afinal, o que falta para isso? Primeiro, é preciso quebrar o muro que separa os dois mundos, academia e indústria, tornando-o, se possível, um único empreendimento que gere conhecimento e, com ela, a inovação. Em países mais avançados, o número de pesquisadores atuando na indústria é muito maior, o que permite uma atuação convergente e em sintonia com a academia, trazendo maior equilíbrio e melhores resultados para a sociedade.

Em segundo lugar, é preciso que o país comece a pensar diferente no que tange à gestão empresarial. A conjuntura econômica vivida pelo país nos últimos anos contribui com um certo temor que a gestão das empresas têm em arriscar. Isso é natural, porém muito perigoso. Essa cultura levou o país a pensar a indústria essencialmente como uma entidade de linha de produção, onde não há espaço para o pensamento, para a criação de novas soluções. Seus empregados são pagos para cumprir seu horário e desempenhar determinada tarefa sem questionamentos. Sua gestão é baseada em métodos que vêm da época da revolução industrial, que preconizam a produção em série, a eficiência do operacional, o valor traduzido em números. Na era do conhecimento, esses conceitos devem não só ser questionados, como também colocados em xeque. As empresas não podem mais se dar ao luxo de confiar apenas nos métodos industriais, buscando tão-somente a eficiência operacional. Não há mais espaço para essa cultura, especialmente em determinados segmentos, os quais dependem muito do conhecimento e da inovação para alcançar sucesso e garantir a sobrevivência num mercado extremamente dinâmico.

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