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quinta-feira, 10 de março de 2011

Volta às aulas de sempre

A volta às aulas é uma época peculiar, pois nos traz à mente a reflexão sobre como somos educados em nossa sociedade. Gostaria de poder avaliar o verdadeiro índice de aproveitamento das pessoas em seu longo caminho de capacitação para a vida, pois o sistema vigente continua preconizando a compreensão de fenômenos ou o conhecimento sobre determinada disciplina de forma isolada. Lembro-me das aulas de matemática, onde éramos ensinados a resolver uma conta ou, no máximo, um problema proposto que descrevia uma simples atividade do dia-a-dia. Jamais nos ensinaram a enxergar o que queriam dizer certas equações, o que havia por trás do mecanismo de resolução de um problema. Fomos criados para um mundo mecanicista.

Esse tipo de educação se reflete na maneira com a qual o país, mediante a atuação de suas empresas, busca criar valor e se desenvolver. Tudo gira em torno de resolver um problema pontual. Gestores estão acostumados a analisar números em suas planilhas e a definir metas neles baseadas. Tudo muito simples, tudo muito direto, tudo muito mecânico. Dessa maneira, preservamos nossa cultura de fazer sempre mais da mesma coisa, de imitar as empresas criadoras de países líderes, de nos restringir ao mundo operacional.

Por que? O motivo é simples. Durante todo o tempo que passamos na escola, pensar era motivo de punição. Criar era considerado rebeldia, desobediência às regras. Avaliar o desempenho de um aluno se baseia na capacidade que este tem de responder o que se quer que seja respondido. Fomos ensinados a responder perguntas óbvias, para as quais todo mundo sabe a resposta. Não fomos ensinados a fazer as perguntas. Fazer perguntas está reservado aos pensadores, aos sábios.

A revista BusinessWeek, da Bloomberg, publicou a lista das 50 empresas mais inovadoras de 2010. A pesquisa contou com a colaboração de importantes entidades, tais como o Boston Consulting Group, BCG-ValueScience, Reuters, Compustat e a própria Bloomberg. A pesquisa obteve alguns resultados comuns com outras realizadas sobre o mesmo tema. Todas elas concordam que os primeiros lugares estão reservados a empresas tais como a Apple e o Google. Outra característica comum entre as pesquisas diz respeito à nacionalidade das empresas inovadoras. Na pesquisa da BusinessWeek, a lista das 50 mais inovadoras inclui 22 dos Estados Unidos, 5 do Japão, 4 da Grã-Bretanha e da China, 3 da Alemanha e Coréia do Sul, 2 da Índia, 1 da Espanha, Canadá, Finlândia, Suiça, Itália, Taiwan e Brasil. A representante brasileira na lista é a Petrobras, na posição 41. De acordo com essa lista, portanto, dentre os países chamados “BRIC”, o Brasil ainda ocupa o terceiro lugar. É claro que essa lista não significa a verdade absoluta sobre a capacidade de inovação de um país, mas é considerada um índice importante, que pode ser usado como subsídio para análises sobre a formação da sociedade e sua capacidade de se desenvolver.

Diversos fatores dificultam uma maior representatividade do Brasil na lista dos mais inovadores. Um dos principais tem a ver com a educação, que por sua vez fundamenta a base cultural de uma postura contrária à inovação, que impõe barreiras impactantes no que diz respeito ao despertar do espírito criativo, empreendedor e inovador das corporações do país. Aquelas que conseguem fazer seu diferencial confiam normalmente na visão pessoal de seus líderes, a quem se deve o mérito da conquista.

A experiência educacional dos profissionais, entre eles os dirigentes das empresas, impõe uma postura voltada ao controle, à obediência às regras, à punição e, portanto, e acima de tudo, à operacionalização. A gestão torna-se então o freio que procura com todas as forças matar as iniciativas de empreendimentos por parte das pessoas que sempre confrontaram a postura vigente, o status quo, para supostamente trazer a ordem nos processos operacionais. Fazendo isso, a rotina se torna privilegiada, e, com ela, a automatização daquilo que já é sabido. Isso é necessário? Sim, é claro que é. Porém não é suficiente para levar o país a adquirir o diferencial prometido em seu discurso.

As atividades voltadas à inovação não podem ser geridas pelos mesmos mecanismos que regem as atividades operacionais, pois são baseadas essencialmente na criatividade, experimentação e conhecimento. Infelizmente, entretanto, a maior parte dos dirigentes empresariais ainda não acordou para esse fato, e perdem com isso grandes oportunidades de consolidar seus negócios e neles sobressair. Falta-lhes o insight de confiar na capacidade pessoal de seus colaboradores. Falta-lhes a coragem de traçar diretrizes e confiar no poder criativo e empreendedor das pessoas, para a formação de equipes vitoriosas.

Fazendo um paralelo com o contexto infantil, o que acontece na prática é mais ou menos o seguinte: Genitores (dirigentes) nomeiam babás (gestores) para tomar conta das crianças (profissionais) no parquinho. Quando uma delas (empreendedor) tenta subir no escorregador pela rampa em vez de usar as escadas, a babá intervém, ensinando-lhe aquilo que parece lógico: Sobe-se no escorregador pelas escadas e desce-se pela rampa. Com isso, mata-se o verdadeiro divertimento, que consiste em experimentar o novo, o diferente, novas sensações. Não nos é permitido, desde crianças, experimentar aquilo que pode trazer novos valores. Nossas babás não deixam, pois nunca brincaram. Mas elas sabem como devemos brincar. Elas nos observam de longe, atentas para que tudo “corra bem”. Foram programadas para tal.

2 comentários:

  1. Klaus
    É isso. É proibido pensar.
    Poderíamos começar ensinando as crianças a jogar xadrez, por exemplo.
    Os laboratórios, existem?
    As brincadeiras, estimulam a criatividade?
    Isso é Brasil...

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  2. Klaus,
    Se me permite, segue o link de uma "parábola" antiga mas que ilustra bem a questão:
    http://www.lhup.edu/~dsimanek/angelpin.htm

    Att.
    Tássilu Faria

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